sábado, 10 de dezembro de 2011

Exato

O Ney é rei, não vai perder jamais sua majestade, mas ontem, depois do show incrível que assisti, ele foi coroado dentro de mim. Volto na memória e Ney Matogrosso me traz lembranças de quase medo. As imagens que me vem são da minha infância, anos 1980, com o Ney seminu e ornado de brilhos com aquele olhar e voz perfurantes. O olhar infantil enxergava já a performance, a verdade daquele artista que me inspirava temor. Vê-lo no palco ontem à noite, pela primeira vez ao vivo, tocou naquelas lembranças todas, naquelas imagens meio surreais, oníricas e refez a percepção. A poderosa energia do artista me cortou, me invadiu, deu novo significado ao antigo sentimento de espanto e o transformou em profunda reverência. Vai a Cor do Desejo em homenagem.

A tua boca anda oca
Da minha língua
Da minha língua
A minha língua anda à míngua
Sem tua boca
Sem tua boca
Exatos são teus olhos que invadem
E me revelam teu coração
Exata é a cor do teu deserto
A dor do teu deserto
Exatos são teus beijos que me acertam
E a ti revelam meu coração
Exata é a cor do teu desejo
A dor do teu desejo

domingo, 23 de outubro de 2011

Por onde vagará seu pensamento?

A uma hora dessas
Por onde andará seu pensamento?
Terá os pés na pedra
ou vento no cabelo?

A uma hora dessas
Por onde andará seu pensamento?
Dará voltas na Terra
ou no estacionamento?

Onde longe Londres Lisboa
ou na minha cama?

A uma hora dessas
Por onde vagará seu pensamento?
Terá os pés na areia
em pleno aparatamento?

A uma hora dessas
Por onde passará seu pensamento?
Por dentro da minha saia
Ou pelo firmamento?

Onde longe Leme Luanda
ou na minha cama?

A uma hora dessas
Por onde vagará seu pensamento?
Terá os pés na areia
em pleno aparatamento?

A uma hora dessas
Por onde passará seu pensamento?
Por dentro da minha saia
Ou pelo firmamento?

domingo, 25 de setembro de 2011

Ora brinca de inflar, ora esmaga


Estou emocionada com o novo CD do Chico. (Grande coisa. Quem não está? :-) Mas é que das músicas e letras escorrem aquela baba de apaixonado, de história linda, de arrebatamento, de não querer mais nada, só o amor... Tão delícia viver isso. Vem junto com um medo, sempre. Aquele medinho de estar sendo feliz demais. Quem já viveu, sabe. Eu sei muito bem... ai, ai...
Não sei para que
Outra história de amor a essa hora
Porém você
Diz que está tipo a fim
De se jogar de cara num romance assim
Tipo para a vida inteira
E agora, eu
Não sei agora
Por quê, não sei
Por que somente você
Não sei por que
Somente agora você vem
Você vem para enfeitar minha vida
Diz que será
Tipo festa sem fim
É São João
Vejo tremeluzir
Seu vestido através
Da fogueira
É carnaval
E o seu vulto a sumir
Entre mil abadás
Na ladeira
Não sei para que
Fui cantar para você a essa hora
Logo você
Que ignora o baião
Porém você tipo me adora mesmo assim
Meio mané, por fora
E agora, eu
Não sei agora
Por quê, não sei
Por que somente você
Não sei por que
Somente agora você vem
Vem para embaralhar os meus dias
E ainda tem
Em saraus ao luar
Meu coração
Que você sem pensar
Ora brinca de inflar
Ora esmaga
Igual que nem
Fole de acordeão
Tipo assim num baião
Do Gonzaga

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Eu quero o mesmo que você

É uma música adolescente, que me leva de volta às carteiras riscadas de coração e palavrões. Me remonta à confusão que a gente pensa que é a adolescência e de ter certeza que o Legião lia meus pensamentos. Esse tempo já se foi há muito, mas, às vezes, mesmo depois dos trinta, a gente pensa como adolescente oura vez, faz tempestade em copo d'água e acha confusão no mais simples dos sentimentos.  A verdade é que amo hoje como amava então e continuo querendo o mesmo: amar e ficar junto.

Tenho andado distraído, impaciente e indeciso
Ainda estou confuso só que agora é diferente
Estou tão tranquilo e tão contente
Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria
Era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada para ninguém
Me fiz em mil pedaços só pra você juntar
E queria sempre achar explicação pro que eu sentia
Como um anjo caído fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira
Mais não sou mais tão criança
A ponto de saber tudo
Já não me preocupo se eu não sei porquê
Se às vezes o que eu vejo quase ninguém vê
Eu sei que você sabe quase sem querer
Que eu quero mesmo que você
Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente um dos deuses mais lindos
Sei que às vezes uso palavras repetidas
Mas quais são as palavras que nunca são ditas?
Me disseram que você estava chorando
E foi então que eu percebi como eu te quero tanto
Já não me preocupo se eu não sei porquê
Se às vezes o que eu vejo quase ninguém vê
Eu sei que você sabe quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.

domingo, 19 de junho de 2011

A onda que me carrega, ela mesma é quem me traz

Paulinho, mais uma vez, enchendo o domingo de sábia filosofia.


Não sou quem me navega
Quem me navega é o mar 

Não sou quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele que me carrega 
como nem fosse levar
É ele que me carrega 
como nem fosse levar

E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
- Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar

Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar
E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o mar

A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor
Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz

Não sou quem me navega
Quem me navega é o mar 
Não sou quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele que me carrega 
como nem fosse levar
É ele que me carrega 
como nem fosse levar

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Aonde for não quero dor

A saudade, essa eterna contradição de tristeza e satisfação. Querer, lembrar com amor, com vontade, dar um suspiro e depois o coração apertar e doer um pouquinho...

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz para dizer
Que te adoro cada vez mais

E que te quero sempre em paz

Tô com sintoma de saudade
Tô pensando em você
Como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Pois te quero livre também
Como tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você caiba no meu colo porque
Eu te adoro cada vez
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que não vou ficar muito atrás

Estou com sintoma de saudade
Estou pensando em você
Como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Pois te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Te quiero, Barcelona

Dias imeeeensos de trabalho, falta espaço no dia e energia no corpo e na cabeça. Vem a saudade das férias, do tempo que passa mais lento, do corpo que pode caminhar o dia inteiro e ainda dançar até de manhã e da mente que se abre e registra milhões de paisagens. Meu coração vai buscar as lembranças da poderosa Barcelona. Volar como mariposa...


Por qué tanto perderse
tanto buscarse sin encontrarse
Me encierran los muros de todas as partes
Barcelona

Te estás equivocando
No puedes seguir inventando
que el mundo sea otra cosa
y volar como mariposa
Barcelona

Hace un calor que me deja
fría por dentro
con este vicio de vivir mintiendo
que bonito seria su mar
si supiera yo nadar
Barcelona

Mi mente tan llena
de cara de gente extranjera
conocida, desconocida
he vueto a ser transparente
No existo más
Barcelona

Siendo esposas de tus ruidos
tu laberinto extrovertido
no he encontrado la razón
porque me duele el corazón

Porque es tan fuerte
que solo podré vivirte
en la distancia y escribirte
una canción.
Te quiero, Barcelona

Ella tiene el poder
Barcelona es poderosa

domingo, 13 de março de 2011

Não se perca

Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, meu quilate
Vem, cara, me reparte
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler

Faça sua parte eu sou daqui
Eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê tá na cara
Sou porta-bandeira de mim

Só não se perca ao entrar
em meu infinito particular

Em alguns instantes
sou pequenina e também gigante
Vem cara se depara
O mundo é portátil
pra quem não tem nada a esconder

Olha a minha cara
É só mistério não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
daqui você pode beber

Só não se perca ao entrar
em meu infinito particular


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Viver de amor é que é difícil

Se você quiser te dou meu coração
Arranco ele do peito com canivete
Dói um pouco mais depois passa
Como tudo passa, o trilho, o trem
Se você quiser, só se você quiser
Te dou minha mão, meu pé
Uma perna, um braço
Sem eles eu passo
Sem eles eu passo muito bem
A dor que me dói, também conforta
Dói e pouco me importa então
Morrer de amor
Morrer de amor, morrer de amor
Morrer de amor não é difícil, não
Se atirar do edifício
Viver de amor é que é difícil
Se atirar
Morrer de amor não é difícil, não
Se atirar do edifício
Viver de amor é que é difícil
Se atirar
Bem, O Zeca Baleiro pega e diz tudo e eu fico sem palavras. É isso. (Esse CD inteiro, ai ai...)Vou tomar uma cerveja, então. 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Me deixe só até a hora de voltar

Me deixe, sim
Mas só se for
Prá ir alí
E prá voltar
Me deixe, sim
Meu grão de amor
Mas nunca deixe
De me amar...
Agora
As noites são tão longas
No escuro eu penso
Em te encontrar
Me deixe só
Até a hora de voltar...
Me esqueça, sim
Prá não sofrer
Prá não chorar
Prá não sentir
Me esqueça, sim
Que eu quero ver
Você tentar
Sem conseguir...
A cama agora
Está tão fria
Ainda sinto o seu calor
Me esqueça, sim
Mas nunca esqueça
O meu amor...
É só você que vem
No meu cantar, meu bem
É só pensar que vem
Lararararará!...
Me cobre mil telefonemas
Depois, me cubra de paixão
Me pegue bem
Misture alma e coração...
Me deixe, sim
Mas só se for
Prá ir alí
E prá voltar
Me deixe, sim
Meu grão de amor
Mas nunca deixe
De me amar...
Agora
As noites são tão longas
No escuro eu penso
Em te encontrar
Me deixe só
Até a hora de voltar...
É só você que vem
No meu cantar, meu bem
É só pensar que vem
Lararararará!...
Me cobre mil telefonemas
Depois, me cubra de paixão
Me pegue bem
Misture alma e coração...
Que fofura essa música, né? Deu-me ânimo hoje escutá-la, descobri-la. É a 42a faixa de um CD lindo que meu grão de amor gravou para mim há eras, mas eu nunca tinha ouvido o CD até o fim! Que perda de tempo não ter ouvido todinho até o final setenta vezes setenta! Faz-me pensar no quanto a vida atrapalha o amor. É tão bom ficar só amando... Mas aí vem a vida, o trabalho, os compromissos, a correria, a loucura e a gente perde o melhor da vida. Sem o amor, até no verão a cama fica fria e até no seu solstício a noite parece não acabar nunca.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Que trabalho é esse?

Que trabalho é esse
Que mandaram me chamar
Se for pra carregar pedra
Não adianta, eu não vou lá
Quando chego no trabalho
O patrão vem com aquela história
Que o serviço não está rendendo
Eu peço minhas contas e vou-m'embora
Quando falo no aumento
Ele sempre diz que não é hora
Veja só meu companheiro
A vida de um trabalhador
Trabalhar por tão pouco dinheiro
Não é mole, não senhor
Pra viver dessa maneira
Eu prefiro ficar como estou
Todo dia tudo aumenta
Ninguém pode viver de ilusão
Assim eu não posso ficar, meu compadre
Esperando meu patrão
E a família lá casa sem arroz e sem feijão
Discussão do salário mínimo de um lado e um monte de gente "ralando" do outro. Tem que gostar disso? Tem que aceitar isso? Se for pra carregar pedra, nem adianta!
Paulinho, há muito tempo, sabe bem o que diz (e escolhe bem o que grava, porque acho que essa composição não é dele, não). De qualquer maneira, o meu amado filósofo do samba está quase sempre com a razão.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

As cidades já estão em chamas!

Pelo verão, o sol queimando na rua. Pelo domingo, pela praia lotada, pelo desejo voraz. Pelo sol na laje, na grama e na areia. Pelo suor que escorre sem perdão, insistentemente. Pelo oceano, o vento que vem de vez em quando e alivia, pela chance que ainda pode sobrar. Pelo desejo voraz.

Ainda há fogo em mim
Queria sempre assim

Dia de luz
Festa do azul celestial
Casa caiada, água salgada
Imaginando a vida toda submarina
Deitada na estampa colorida da toalha
Todas as cores secando ao sol

Todas as cidades já estão em chamas
Consumidas por um desejo voraz
Quem sabe ainda sobre alguma chance
A tarde, o vento e o mar

Ainda há fogo em mim
Queria sempre assim

Sombras frondosas nas calçadas
Bairro novo
Seus dias quentes e úmidos
Suor pingando do rosto
E logo ali 
Deitada à vontade na grama do seu jardim
Um cheiro bom

E todas as cores filhas do sol
Todas as cidades já estão em chamas
Consumidas por um desejo voraz
Quem sabe ainda sobre alguma chance
E folhas pairando no ar

Ainda há fogo em mim
Quisera sempre assim

Dia de luz festa do azul celestial
Casa caiada, água salgada
Imaginando a vida toda submarina
Deitada na estampa colorida da toalha
Todas as cores secando ao sol

Todos os oceanos já estão condenados aos ataques
Impulsionados por um desequilíbrio feroz
Quem sabe ainda sobre alguma chance
A tarde, o vento e o mar

Todas as cidades já estão em chamas
Consumidas por um desejo voraz
Quem sabe ainda sobre alguma chance
A tarde, o vento e o mar

("Vamo fazer um final")


(a música parece que não quer acabar e ele tem que chamar o final. Bom demais! Dá até vontade de sair voando para Olinda.)

Ontem eu sambei

Ontem eu sambei
Como nunca havia sambado
Derramei o suor, levantei a poeira
Como nunca tinha levantado

Vinha gente de todos os lados
Alegria se fazia
Se eu falar mais para você
Você nunca acreditaria
Que pudesse acontecer
Tanta coisa boa num só dia
Se eu falar mais pra você
Você nunca acreditaria

Ontem eu sambei

Fim de semana, amigas, show da banda Eddie... É muito bom dançar no meio de todo mundo, pular, cantar alto, rindo. Tem dia que parece que a felicidade se instala com uma persistência que a gente quase acredita que ela vai durar para sempre. Ô sensação boa. Viva a amizade, viva a cachacinha, viva o beijo na boca, viva Santa Teresa, a Lapa e o Centro, viva Olinda e sua música, vivaaaaa!!!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A sorrir

A sorrir eu pretendo levar a vida
Pois chorando eu vi a mocidade perdida

Finda a tempestade, o sol nascerá
Finda esta saudade, hei de ter outro alguém para amar

A sorrir eu pretendo levar a vida
Pois chorando eu via mocidade perdida


Simples assim. Simples e poderoso como quase tudo o que o Cartola deixou para nós. Há pessoas que têm a natureza alegre, alma sorridente, que passam pelas tristezas da vida, mas que logo voltam a sorrir, nem que seja para rir um pouco de si mesmas. É verdade que, às vezes, leva toda uma mocidade... Acho melhor levar a vida assim, ou ter tido a sorte de ter me tornado alguém que tem capacidade de levar a vida sorrindo e de voltar a sorrir, depois dos tropeções. Fica mais leve a vida e nos rodeia de pessoas que querem sorrir também.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

mais cedo ou mais tarde

Não, não foi surpresa para mim
Porque tudo na vida tem fim
Eu esperei com resignação
O triste dia da separação
Vai, meu amor, siga o seu destino
Que eu seguirei o meu
Seja feliz, adeus.

Nada dura eternamente
Tudo na vida é ilusão
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde
Chegaria o dia da separação

Aí vai o prometido "Tudo é ilusão", parceria antiga de Éden Silva, Anibal Silva e Tuffi Lauar, eternizado na voz da rainha Clara Nunes. Até dói o coração. 

É porque ninguém o entendeu

Morre mais um amor num coração vulgar
Deixa desilusão a quem não sabe amar

E quem não sabe amar há de sofrer
Porque não poderá compreender
Que o amor que morre é uma ilusão
E uma ilusão deve morrer

O verdadeiro amor nunca fenece
E pouca gente ainda o conhece
Meu bem, se o teu amor morreu
É porque ninguém o entendeu

Deixa o teu coração viver em paz
O teu pecado foi querer amar demais
Morre mais um amor num coração vulgar

Deixa desilusão a quem não sabe amar

Essa letra do Paulinho sempre me deixou intrigada. Quanta ousadia, nestes tempos, dizer que o verdadeiro amor nunca fenece! Para mim a ilusão é justamente esta: nada dura eternamente (ih, vou ter que postar "Tudo é ilusão" também). Será que o Paulinho estava profetizando ou simplesmente constatando que não sabemos mais amar? Tarefa difícil é entender o amor do outro. Ah, coração meu! Ah, coração vulgar...